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Vítimas de procedimentos estéticos denunciam charlatanismo em Vitória da Conquista

Duas mulheres, Lilian e Carla Moreira Gomes, decidiram contar suas histórias após se tornarem vítimas de procedimentos estéticos realizados por um suposto especialista que se autointitulava "Imperador do Emagrecimento".

Em Vitória da Conquista, uma cidade do sudoeste baiano conhecida por sua crescente busca por padrões estéticos, agora é palco de uma denúncia grave que expõe os riscos ocultos por trás de promessas de beleza rápida e emagrecimento milagroso.

As denúncias vieram à tona depois que a Polícia Civil da Bahia, por meio da Primeira Delegacia Territorial de Vitória da Conquista, concluiu uma investigação que resultou no indiciamento de um fisioterapeuta e de uma farmacêutica. Ambos foram acusados por crimes contra a saúde pública, contra a vida e contra o direito do consumidor, após diversos relatos de pacientes que sofreram consequências físicas e emocionais graves.

O delegado titular da DT de Vitória da Conquista, Paulo Henrique de Oliveira, destacou que laudos técnicos apontaram graves irregularidades nas rotulagens dos medicamentos, como a ausência de dados obrigatórios. “Isso configura um crime contra a saúde pública, pois a falta de informações coloca em risco a saúde dos pacientes, que não sabem exatamente o que estão usando e ficam expostos a intoxicações ou efeitos adversos”, afirmou o delegado.

Lilian, uma das vítimas, relatou com emoção os momentos de desespero vividos logo após o procedimento estético. “Eu saí de lá, fui direto para a farmácia comprar a medicação que ele tinha solicitado. Passei mal na farmácia, perdi os sentidos”, conta. As lesões causadas foram imediatas: bolhas, queimaduras de segundo grau e dor intensa. “Quando o curativo batia na pele, era como se estivesse derramando ácido”, desabafa.

Mais do que a dor física, Lilian viu sua vida social e familiar ruir. Amante da dança e da música seresteira, afirma que perdeu o convívio com o filho, amigos e vizinhos. “Não podia mais brincar com meu filho, receber visita, nem olhar a porta da rua”, lamenta.

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Carla Moreira Gomes compartilha um destino semelhante. Submetida a um procedimento de criolipólise, passou mal logo após sair da clínica. “Fiquei de oito da manhã até uma da tarde lá. Quando saí, passei mal na rua”, relata. Socorrida pelo marido, foi levada ao hospital. A situação se agravou após o uso dos medicamentos prescritos pelo investigado. “Ele me deu a receita e indicou uma farmácia de confiança dele. Se eu tivesse tomado tudo, acho que eu tinha morrido.”

Carla ainda conta que conheceu o “Imperador do Emagrecimento” pelas redes sociais, onde ele publicava fotos de “antes e depois” de outras pacientes. O marketing agressivo foi decisivo para sua escolha. “Antes, eu era uma mulher ativa, trabalhadora. Agora não posso trabalhar, sinto dores nas pernas e articulações. Meu cabelo caiu, minha pele manchou”, revela.

A operação policial realizada em março de 2025 encontrou diversas irregularidades sanitárias na clínica localizada no centro da cidade. Quatro salas foram interditadas e a Vigilância Sanitária constatou a ausência de licença sanitária para funcionamento. Frascos injetáveis foram descartados de forma irregular, e os receituários, segundo a defesa das vítimas, não continham especificações mínimas obrigatórias.

A advogada criminalista Andréa Menezes, que acompanha o caso de Lilian, afirma que a paciente sofreu lesões graves e ficou mais de 30 dias incapacitada. “A função do abdômen dela foi comprometida. O receituário não informava nem a formulação, apenas o nome do produto e a posologia. ”

A defesa do fisioterapeuta investigado alega que ele jamais aplicou substâncias nas pacientes, apenas recomendou o uso durante as consultas. “O indiciamento não comprova culpa. Estamos tranquilos quanto à legalidade das prescrições”, afirmou o advogado. Ele ainda sustenta que o profissional pode, sim, prescrever substâncias, conforme orientação do conselho da categoria.

A Polícia Civil afirma que uma das vítimas desenvolveu deformidades permanentes. As investigações já indicam que outras denúncias semelhantes podem surgir. A dor física é apenas uma parte da tragédia enfrentada por essas mulheres. A marca mais profunda, talvez seja a da perda da autonomia, da confiança e da saúde mental.

por Ana Flávia Costa, sob supervisão

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