Pouco mais de 48 horas depois, nesta quarta-feira (16), porém, o próprio Haddad foi obrigado a se explicar melhor. No dia anterior, terça-feira (15), a ministra do Planejamento, Simone Tebet, já tinha vindo a público para restringir o alcance dos esboços de medidas anunciados. “Não se mexe nos reajustes reais do salário mínimo, nem sua vinculação às aposentadorias”, avisou Tebet, creditando a interdição a vetos de Lula.
Se a intenção era acalmar a Faria Lima, a estratégia parece não ter sido bem sucedida. Inicialmente, os mercados de ativos reagiram bem à aparente rendição do governo à convicção do mercado de que a dívida pública seria insustentável sem cortes substanciais nos gastos públicos. A cotação do dólar deu uma recuada, assim como a taxa de juros futuros.
Logo, contudo, dólar e juros voltaram a subir. Declarações de Lula na direção contrária a das revisões e cortes anunciados por Haddad, ajudaram a reforçar desconfianças de que Haddad, se tinha combinado alguma coisa com Lula, era apenas para lançar balões de ensaio e sentir a reação da praça — não que o presidente já tivesse batido o martelo em favor dos cortes.
Muito difícil, de fato, acreditar que Lula tenha topado dar a prioridade anunciada por seu ministro da Fazenda aos cortes e revisões de gastos antes de outras reformas na direção de aumentar a arrecadação, compensando gastos sociais, por exemplo, via taxação dos mais ricos.
É sabido que uns 80% do Orçamento podem ser classificados como gastos sociais. Por isso, cortes e revisões orçamentárias significam, inevitavelmente, redução de benefícios que se destinam aos mais pobres.
Parece inconcebível, em resumo, que Lula aceite retirar pobres do Orçamento sem incluir ricos no Imposto de Renda, implodindo a alma de suas promessas eleitorais em 2022, como permite que se interprete o recado de Haddad que prioridades mudaram.
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