
O Abril Verde vai muito além de uma campanha simbólica. É um alerta urgente para uma realidade preocupante: só em 2023, o Brasil teve cerca de 500 mil acidentes de trabalho e mais de 2,8 mil mortes, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Casos como o rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019, que matou 270 pessoas, e o incêndio na Boa Vista Confecções, em São Paulo, que deixou 10 costureiras mortas em 2023 por falta de saídas de emergência, escancaram o custo humano da negligência.
“A maior parte dessas tragédias poderia ser evitada com fiscalização rígida e punições exemplares”, afirma o advogado Emílio Fraga, especialista em direito do trabalho. Ele é direto: “Quando um patrão economiza na segurança, assume o risco de matar”.
A mudança é possível e obrigatória. Após a tragédia de Brumadinho, a mineradora Vale passou a investir pesado em segurança e reparações, destinando R$ 127 bilhões para ações preventivas e compensatórias.
A Justiça também tem agido com mais rigor. Em 2024, um grupo do setor frigorífico foi multado em R$ 50 milhões por expor trabalhadores a riscos biológicos sem a devida proteção. Já uma montadora foi condenada a pagar R$ 3 milhões a operários com LER e DORT. “A multa só é eficaz se vier acompanhada de responsabilização criminal”, ressalta Fraga, lembrando o caso de uma empresa de celulose, condenada por homicídio culposo após a morte de um funcionário em 2022.
Há, no entanto, exemplos positivos. O Programa Viver Seguro da Petrobras reduziu em 72% o número de acidentes, com treinamentos práticos e imersivos. Já a Ambev criou o Sistema de Análise de Riscos (SAR), premiado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que tem se destacado pela eficácia.
Fraga reforça: “Segurança do trabalho não é gasto, é investimento. Quem não entende isso, paga mais com vidas perdidas e processos judiciais”.
O futuro exige atitude. A Suécia, por exemplo, reduziu em 80% os acidentes fatais com inspeções surpresas. Inspirado nisso, o CREA-SP lançou o Abril Verde Digital, uma plataforma onde qualquer pessoa pode denunciar, em tempo real, empresas que colocam seus trabalhadores em risco.
Para Fraga, o Brasil precisa ir além: “É urgente tipificar a negligência que resulta em morte como crime hediondo”. Ele lembra o caso da construção do estádio de Manaus para a Copa de 2014, onde três operários morreram o que gerou condenações inéditas na área.
O Abril Verde é um grito por justiça. “Nenhum trabalhador deveria morrer para garantir lucro. A CLT deve ser uma arma de proteção real, não só um papel assinado”, conclui o especialista. Para ele, os dados são claros: cada real investido em prevenção economiza R$ 4 em indenizações.