Cardeal condenado por corrupção diz que vai ao Conclave mesmo sem direito a voto
Giovanni Angelo Becciu, condenado a mais de cinco anos de prisão pelo Tribunal do Vaticano, afirma que participará da escolha do novo papa apesar de ter sido excluído da lista oficial de eleitores

O cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu, ex-substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, afirmou nesta terça-feira (22) que pretende participar do Conclave que elegerá o novo papa, mesmo tendo sido oficialmente excluído da lista de cardeais com direito a voto.
A declaração foi dada em entrevista ao jornal italiano L’Unione Sarda. Becciu, que foi condenado em dezembro de 2023 a cinco anos e seis meses de prisão por envolvimento em um escândalo de corrupção, alegou que ainda possui os direitos ligados ao cardinalato, apesar das sanções impostas.
Segundo as investigações, o cardeal usou cerca de 200 milhões de dólares da Santa Sé, que deveriam ser destinados a obras de caridade, para investir em fundos de alto risco e comprar um imóvel de luxo em Londres. Além disso, parte dos recursos teria sido direcionada à diocese de sua cidade natal, na Sardenha, beneficiando familiares.
Becciu atuava como chefe de gabinete do papa Francisco à época dos acontecimentos. Em 2020, ainda sob investigação, ele renunciou aos direitos ligados ao cardinalato, decisão aceita pelo pontífice.
Apesar disso, Becciu afirma que sua participação em um Consistório em 2022, uma reunião de cardeais convocada pelo papa, provaria que seus direitos continuam válidos. “O papa reconheceu que minhas prerrogativas de cardeal permanecem intactas, já que não houve uma vontade explícita de me excluir do Conclave nem um pedido para minha renúncia por escrito”, afirmou o religioso.
O Vaticano, no entanto, foi claro ao afirmar que o convite ao Consistório não devolve automaticamente os direitos perdidos. Segundo a Santa Sé, os “direitos do cardinalato não se referem à participação na vida da Igreja”, e Becciu segue fora da lista dos 135 cardeais com direito a voto.
Atualmente, ele ainda consta como membro do Colégio de Cardeais, grupo que auxilia na administração da Igreja em tempos de transição, mas sem poder votar. Na prática, Becciu poderá participar da organização do Conclave, mas não da eleição do novo papa.
Figura influente no passado recente da Igreja, Becciu foi nomeado cardeal por Francisco em 2018 e chegou a ser apontado como um possível sucessor do pontífice. Após o escândalo vir à tona, no entanto, perdeu espaço e prestígio no Vaticano. Ele nega todas as acusações e diz que o afastamento do papa foi uma “dor imensa”.
Becciu recorreu da decisão judicial e segue em liberdade enquanto o caso tramita.