Vergonha e inveja de fato formam um complexo de emoções “sociais”, mas justamente falta o par mais típico da vergonha, ou seja, a culpa, assim como falta a derivação mais importante da inveja, que é o ciúme.
Para completar o quadro de negações das emoções, a nostalgia representa, na verdade, uma propriedade comum de todas as emoções, que é a sua capacidade de ser transformada quando a retomamos, sob forma de memória, quer para rememorar, comemorar ou reviver.
Ou seja, as emoções não podem ser entendidas sem uma teoria da sua historicidade, por isso a chance de reprisar “Divertida Mente” para um público que “cresceu” é uma grande sacada. Ajuda a nos reencontrarmos com nossas bobagens, “bobeiras” e infantilidades, agora transformadas e renovadas em novas formas de sentimento.
Aqui se encontram as duas falhas mais graves da teoria da mente de “Divertida Mente”, ou seja, as emoções não se transformam, elas só se combinam entre si e se reapresentam, sem que a “mente dos outros” exerça um papel importante nisso.
Duas exceções notáveis aqui. A cena crucial, que deveria ser um dos desencadeantes da puberdade, e não posterior, quando as três meninas estão no carro e Bree e Grace revelam que vão estudar em outra escola, o que leva Riley ao conflito entre perda (tristeza) e deslealdade (raiva), confiança de que continuarão amigas (alegria) e solidão iminente (medo).
Ora, a dinâmica que se passa na mútua interpretação “daquele olhar” envolve a leitura do que está se passando na mente das amigas, com o acréscimo decisivo: ela foi surpreendida pela notícia. E isso só aconteceu porque elas mantiveram a informação em segredo até que ela “escapou” em um comentário. Junta-se a isso o processo decisivo de estar sendo “exclusiva” do processo afetivo das amigas, da qual se considerava íntima.