Poderíamos argumentar que a violência ressentida torna-se mais palatável que o erotismo pré-fabricado, e que a miséria vem a dar nova forma a nosso exotismo, agora aderente também ao universo urbano.
Em 2010, escrevi uma outra coluna sugerindo que a sexualidade estava saindo de pauta, com a entrada de uma curiosa nova moralidade, por um lado mais aberta e tolerante, por outro lado, mais hipermoral e vigilante.
Usei o exemplo das novas séries de animes, como Pokémon, como exemplo de narrativas onde o sexo fica apenas sugerido. Os tais quase-animais evoluíam, mas não por reprodução como encontro entre dois seres diferentes, mas pela aquisição de experiências, equipamentos e habilidades.
Quando mencionei que era uma geração que tinha começado vendo Teletubbies, ou seja, bebês anamórficos em termos de gênero, muitos sentiram-se ofendidos. Mas, na verdade, começava ali um novo declínio do erotismo nacional, depois comprovado por muitas pesquisas quantitativas.
Nos anos 2000 a 2010, a frequência sexual dos brasileiros variava, em média, de 2 a 3 vezes por semana. Mas, já em 2017, essa frequência caiu para 1,7 por semana, com a concentração da prática entre 25 a 34 anos.
Cenário que piorou ainda mais durante a pandemia (2020-2021), atingindo a frequência sexual tanto de casais de longa duração quanto dos jovens adolescentes.