Com quatro vereadoras, Câmara de Conquista atinge número recorde de mulheres

Das 360 candidaturas registradas na Justiça Eleitoral, 35,28% foram de mulheres, enquanto os homens eram 64,72% na disputa parlamentar

Pela primeira vez na história, a Câmara Municipal Cármen Lúcia, em Vitória da Conquista, contará com quatro mulheres entre os 23 vereadores, representando 17,3% das cadeiras. Entre as eleitas estão a empresária Léia de Quinho (PSD), com 4.272 votos, a fisioterapeuta Cris de Lúcia Rocha (MDB), com 2.963 votos, a vereadora reeleita Viviane Sampaio (PT), com 2.834 votos, e a médica Lara Fernandes (Republicanos), com 2.418 votos. Os homens ocupam 82,7% das cadeiras, com 19 candidaturas eleitas.

Na cidade, apesar das cotas de gênero estabelecidas pela Lei 9.504/1997, as candidaturas femininas foram apenas 35,28% do total de 360 registros na Justiça Eleitoral. Ao todo, 127 mulheres disputaram o pleito por 20 partidos diferentes, enquanto 233 homens (64,72%) concorreram às mesmas vagas.

De acordo com a coordenadora do Vivas (Grupo de Pesquisa em Estudos Feministas, Gênero, Diversidade e Educação), professora do curso de Pedagogia da Uesb, Ana Luiza Salgado, as posições políticas ainda são patriarcais. No entanto, ela ressalta que, ao longo dos anos, o crescimento da representação feminina tem contribuído para a equidade. “Mudanças significativas exigem a desconstrução de normas e práticas que perpetuam a desigualdade de gênero e outras intersecções. É importante que as mulheres eleitas tenham acesso a informações, formação e recursos que as capacitem a formular e defender políticas que atendam às necessidades de todas, sabendo que não são um grupo homogêneo e que suas experiências variam conforme raça, classe e orientação sexual.”

Viviane Sampaio irá exercer seu terceiro mandato consecutivo em 2025 e expressou otimismo com a chegada das três novas parlamentares, destacando que, apesar das diferenças ideológicas, as demandas das mulheres são comuns. “Nós precisamos representar a maioria da população, mesmo sendo a minoria no parlamento. A gente percebe que as políticas públicas não estão chegando de forma igualitária para quem reside em periferias, em bairros mais distantes e na zona rural.”

Já a vereadora eleita Cristiane Rocha, filha da parlamentar Lúcia Rocha, terá o primeiro mandato a partir de 2025 e destacou o quanto o machismo está presente nos espaços de poder, sendo uma prática de homens e  mulheres, que dificulta a valorização feminina. “Vi mulheres dizendo que as vereadoras eleitas iriam utilizar o dinheiro para comprar bolsas de grife e passear por aí. Eu cresci respirando política, me vejo como uma agente transformadora, e espero que meu mandato sirva de estímulo à luta pela quebra de preconceitos e por novas ações voltadas à mulher.”

Por sua vez, Léia Meira, segunda vereadora mais votada no pleito, enfatizou a relevância de pautas voltadas às necessidades das mulheres e agradeceu o apoio dos eleitores. “Mulher na política não é só uma questão de justiça, mas uma forma de assegurar medidas que atendam às necessidades específicas. Sei o tamanho da minha responsabilidade e vou me esforçar para retribuir a confiança dos eleitores com muito trabalho.”

Desde o início da semana, também mantivemos contato com a vereadora eleita Lara Fernandes, que ainda não enviou suas considerações.

Entre as parlamentares, apenas Viviane Sampaio já havia ocupado um cargo político, sendo eleita em 2016 e reeleita em 2020. Durante seus mandatos, a vereadora teve oito projetos aprovados, entre eles a Lei 2.228/2018, que estabelece medidas de informação e proteção contra a violência obstétrica no município, e a Lei 2.312/2019, que obriga bares, hotéis, restaurantes e estabelecimentos similares a disponibilizarem cardápios em braille.

Destacam-se entre os mais recentes a Lei 2.537/2021, que exige que hospitais registrem e comuniquem imediatamente o nascimento de crianças com Síndrome de Down a instituições e associações especializadas, e a Lei 2.671/2022, que proíbe queimadas em vias públicas e terrenos urbanos e suburbanos.

As vereadoras Cris de Lúcia Rocha, Léia de Quinho e a doutora Lara Fernandes foram eleitas pela primeira vez.

Perfil das vereadoras

Viviane Sampaio (PT), vereadora reeleita, é natural de São Paulo, tem 49 anos e é reconhecida por seu trabalho em defesa do fortalecimento da mulher na sociedade. Seus projetos são direcionados às áreas de saúde, educação, desenvolvimento social e questões de gênero.

Cristiane Rocha (MDB), nascida em Vitória da Conquista, tem 47 anos e possui 20 anos de atuação na gestão de saúde no município. Suas propostas visam garantir melhorias no acesso à saúde, além de aprimorar as áreas de educação, acessibilidade, segurança pública, saneamento básico, infraestrutura urbana, esporte e lazer. Ela é a filha da vereadora e atual candidata à Prefeitura de Conquista, Lúcia Rocha.

Leia Meira (PSD), natural de Vitória da Conquista, é a mais jovem entre as eleitas, com 36 anos. Suas propostas a serem desenvolvidas estão relacionadas à infraestrutura das comunidades rurais, apoiar a capacitação profissional, promover o empreendedorismo feminino e garantir a inclusão de crianças com autismo e necessidades especiais.

Lara Fernandes (Republicanos), natural de São Raimundo Nonato, Piauí, tem 47 anos. É conhecida por seu trabalho na área da saúde e pela defesa do direito à vida e à liberdade religiosa. Sua gestão tem pautas voltadas para a segurança pública e a implementação de projetos de esporte, lazer e cultura nas periferias.

História

As mulheres chegaram à Câmara Municipal de Vitória da Conquista em 1936, apenas quatro anos após as brasileiras conquistarem o direito ao voto e de serem votadas. Nas eleições municipais daquele ano, Geny de Oliveira Rosa (1893-1985), conhecida como Dona Zaza ou Tia Zaza, filha de Dona Janoca e do coronel Gugé, garantiu o posto de suplente e chegou a exercer o cargo de vereadora.

Daquela época até os dias atuais, o número de mulheres no legislativo municipal não teve um crescimento significativo, mas elas sempre estiveram presentes. Entre elas, destacam-se as vereadoras Ilza Matos (1937-2019), primeira mulher a ocupar a presidência da Casa na década de 1970; Carmen Lúcia (1949-1998); Helita Figueira; Lúcia Rocha; e as ex-parlamentares Lygia Matos, Nildma Ribeiro e Irma Lemos — que, antes de ser eleita vice-prefeita, exerceu três mandatos como vereadora —, além de Viviane Sampaio.

Em 2020, das 21 vagas disponíveis na Câmara Municipal, apenas duas foram ocupadas por mulheres: Lúcia Rocha e Viviane Sampaio, o equivalente a 9,5%, enquanto 19 vereadores eram do sexo masculino. Na ocasião, houve 446 candidaturas ao cargo de vereador na cidade, sendo 302 masculinas e 144 femininas.

Por Rafaella Leite (site Avoador)

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