Caso dos transplantados com HIV: laboratório usou registro cancelado de biomédica

O erro que causou a infecção, sem precedentes, dos transplantados coloca em cheque outros serviços prestados pelo PCS Lab Saleme

Um dos laudos do laboratório PCS, envolvido nos casos de transplantados com HIV, usou o registro de uma biomédica, que nunca trabalhou no Rio de Janeiro e que está com o registro cancelado. Júlia Moraes de Oliveira teve o registro usado em um dos exames errados assinado por Jacqueline Iris Bacellar de Assis.

O registro de Júlia Moraes de Oliveira Lima foi cancelado pelo Conselho no ano passado. O laboratório PCS é apontado pela Secretaria Estadual de Saúde como responsável pelo erro em dois exames, o que culminou na infecção por HIV de seis pessoas que estavam na fila do transplante e receberam órgãos.

O caso foi denunciado em primeira mão pelo jornalista e diretor de conteúdo do Grupo Bandeirantes Rodolfo Schneider, na BandNews FM Rio. Cerca de 600 pacientes, receptores de transplantes de rins, fígado e coração podem ter sido afetados por essa falha histórica. Pessoas que vivem mais uma angústia depois de já terem passado pela difícil espera por uma doação.

O resultado dessa nova testagem deve sair no começo da próxima semana, mas todas essas pessoas já foram acionadas pela Secretaria Estadual de Saúde.

O erro que causou a infecção, sem precedentes, dos transplantados coloca em cheque outros serviços prestados pelo PCS Lab Saleme, que atendia 11 unidades estaduais de saúde. A suspeita é de que exames de sangue colhidos no Instituto Estadual de Diabetes e Endocrilonogia possam ter sido forjados pelo mesmo laboratório.

Entenda como o HIV pode interferir na recuperação de transplantados

A denúncia de órgãos transplantados com HIV, no Rio de Janeiro, por falha de um laboratório privado levantou dúvidas sobre as consequências para a saúde nestes casos. Vale lembrar que, internacionalmente, o histórico do Brasil nesses procedimentos é considerado impecável.

Logo após o transplante, o corpo do paciente fica fragilizado. Ele precisa se adaptar ao novo órgão. Nessa fase delicada, qualquer problema de saúde, não só o HIV, pode interferir na recuperação. Uma doença a mais complica o tratamento, o que exige mais cuidados e remédios.

O sistema imunológico é um conjunto de células que atuam no nosso corpo contra organismos invasores. Para evitar um ataque ao órgão transplantado, os medicamentos de imunossupressão reduzem o número dessas defesas. A presença do vírus HIV ativo, sem tratamento, faz essa quantidade cair ainda mais.

Especialistas ouvidos pela Band explicam que, após o diagnóstico, o paciente iniciará o tratamento para que as defesas imunológicas sejam normalizadas. Com isso, o HIV será neutralizado, enquanto o transplantado poderá seguir o processo de adaptação ao novo órgão. Vele lembrar que pessoas infectadas e devidamente tratadas têm a mesma qualidade de vida das que não são.

“Elas vão passar por essa fase aguda do transplante. Vai ter que ser feito um segmento mais delicado, mas vai ter uma expectativa de vida de ficar bem, de tomar os remédios, de ficar indetectável do HIV e ter uma vida normal, como as pessoas que vivem com HIV no mundo tem”, explicou o infectologista Álvaro Furtado.

Antes de retirar os órgãos do doador, por lei, é obrigatório que o corpo doador passe por uma triagem de doenças, incluindo exames de HIV, hepatite B, hepatite B, sífilis, doença de chagas e HTLV, um vírus que causa leucemia e doenças neurológicas. Outros testes ainda podem ser exigidos pela equipe médica.

Dos anos 2000 até hoje, o Brasil fez quase meio milhão de transplantes. O país é o segundo maior transplantador do mundo. Só fica atrás dos Estados Unidos. Nunca houve registro de transmissão de doenças graves por falhas nos exames do doador. O sistema público brasileiro de transplante é uma referência mundial.

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