
No Sítio Vitória, nas Chácaras Morumbi, em Vitória da Conquista, vive Ana Ferreira Lima, de 85 anos. Natural de Belo Campo ou de Tremedal, como era conhecida a região à época do seu nascimento, Ana representa a força silenciosa das mulheres do sertão baiano: mães, trabalhadoras e guardiãs da história familiar.
Casada há cerca de 60 anos, Ana dedicou sua vida inteiramente à família e à lida na roça. Sem jamais ter trabalhado fora, ela foi o pilar de sua casa, criando os 17 filhos que sobreviveram à infância de um total de 18 nascimentos. Uma das filhas faleceu ainda bebê, aos seis meses, e outra, já adulta, em 2011. Mesmo em tempos difíceis, nunca cogitou adoção. “Já era mais do que eu podia criar”, teria dito aos familiares, com o senso de responsabilidade que sempre guiou suas escolhas.
A rotina de Ana era simples e marcada pelo trabalho árduo no campo, ao lado do marido, e pelo cuidado com os filhos. Em uma época em que o planejamento familiar era quase inexistente nas zonas rurais, ela teve filhos de forma contínua, até que a menopausa encerrou naturalmente essa fase de sua vida.
Hoje, Ana enfrenta as limitações trazidas por três AVCs sofridos há cerca de 20 anos, que reduziram sua mobilidade e afetaram parte de seu corpo. Mesmo assim, ela continua lúcida e comunicativa, especialmente quando rodeada por pessoas conhecidas.
Residente em Vitória da Conquista, sua história é uma memória viva de outra Bahia: a do campo, da resiliência feminina e das famílias numerosas sustentadas na base da coragem. Ana Ferreira Lima é mais que uma senhora de 85 anos. É uma matriarca, um símbolo da resistência rural e um retrato da força de muitas mulheres invisíveis que moldaram o sertão com suas mãos calejadas e corações gigantes.
por Ana Flávia Costa, sob supervisão